Os
benefícios sociais operados pelo banco serão transferidos para a nova
subsidiária, que deve ser criada neste ano.
Uma
outra instituição financeira, com outro CNPJ, será responsável pelo pagamento
de todos os benefícios sociais operados pela Caixa. É o que pretende o
presidente da instituição, Pedro Guimarães, com a criação do banco digital
– que vai passar por um processo de abertura de capital (IPO) no Brasil e
no exterior.
“O
que for banco social vai para o digital”, disse Guimarães em entrevista para o
jornal Valor Econômico, no dia 30 de dezembro. A criação do banco digital ainda
precisa ser aprovada pelo Banco Central e pelo Conselho de Administração da
Caixa (CA/Caixa).
Além
do pagamento de todos os benefícios sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa
Minha Vida (que será substituído pelo Casa Verde e Amarela), o banco digital
vai liberar microcrédito para, no mínimo, 10 milhões de clientes. Também vai
fornecer crédito imobiliário para famílias de baixa renda.
O
presidente da Federação Nacional das Associações da Caixa Econômica Federal
(Fenae), Sergio Takemoto, considera a criação do banco digital mais uma etapa
para privatizar a Caixa – “O projeto deste governo e da direção da Caixa é
dividir o banco em várias partes (subsidiárias) e vender cada uma delas – uma
privatização disfarçada para burlar a Lei, que não permite a venda da
empresa-mãe sem aval do Congresso. Mas Takemoto considera que a criação de mais
uma subsidiária como o banco digital, que já nasce com objetivo de
privatização, tem um objetivo mais “ousado e perigoso”.
“O
coração da Caixa, a função pública e social do banco será transferida para um
outro CNPJ que não é o da Caixa. Qual será o futuro dos programas e benefícios
sociais se estiverem nas mãos do mercado privado, que só visa o lucro? As
políticas públicas que atendem a população mais carente do País serão
garantidas?”, questiona o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.
Para
Rita Serrano, representante dos empregados no CA/Caixa, a medida é grave e
coloca em risco a sustentabilidade e integridade do banco. “O banco digital
nada mais é do que um outro banco, com outro CNPJ, para onde serão transferidas
as principais operações da Caixa. Num outro momento esta nova instituição será
privatizada”, alertou.
Com
o pagamento do Auxílio Emergencial, a Caixa foi responsável pela inclusão
bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos bancos. 105 milhões
de poupanças digitais foram abertas para o pagamento do benefício por meio do
aplicativo Caixa TEM – o coração do banco digital. Além do acesso a informações
sobre o Auxílio emergencial, programas sociais, FGTS e Seguro-Desemprego, pelo
aplicativo é possível fazer compras pela internet com o cartão de débito
virtual gerado na própria ferramenta.
Todo
esse salto de qualidade tecnológica, realizado pelos empregados da Caixa com
patrimônio público, deveria ser usado para fortalecer o banco e impulsionar o
seu papel como instituição pública, avalia Serrano. “Mas o que a direção do
banco vai fazer é o contrário – transferir toda esta herança positiva para
outra instituição”, explica.
Serrano
lembra que o Banco do Brasil e os maiores bancos privados como Bradesco, Itaú e
Santander têm plataformas digitais. A diferença é que foram criadas para
agregar público, em especial o público jovem, e entrar na concorrência com as
fintechs, que tomam grande parte deste público.
“No
caso da Caixa é diferente – ela já possui a plataforma digital, que é o Caixa
TEM, já conquistou um público grande com a abertura das poupanças sociais
digitais e fez a inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham
acesso aos bancos. Tudo isso já é um patrimônio da Caixa. O que está se falando
é criar um outro CNPJ, transferir esse patrimônio já conquistado para outra
instituição e, no momento seguinte, fazer a abertura de capital desta
instituição, privatizando parte ou todo o banco”, disse. “Quem ganha são os
investidores que vão comprar um patrimônio que a Caixa construiu com recursos
públicos. Nós temos o dever e o poder de impedir mais esse absurdo contra o
patrimônio dos brasileiros”, alerta a conselheira.
Do GGN
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