Não
passa desta quinta-feira o início do discurso vitimista de Jair Bolsonaro sobre
o voto do ministro André Mendonça condenando o deputado Daniel Silveira pelas
ameaças que fez de surrar ministros e de fechar o Supremo Tribunal Federal.
De
novo, como vem desde a demissão de Gustavo Bebianno, do seu confronto com os
deputados do PSL, com Mandetta e com o “caso Moro”, Bolsonaro trabalha a
fidelidade de seus adeptos pondo-se na posição de “traído” por aqueles “por
quem sempre fez tudo”.
Não
precisava se associar ao brucutu que estava sendo julgado na sessão
desta quarta-feira no STF, pois Silveira é uma figura periférica e “folclórica”
, distante de seu núcleo político.
Mas
fez questão de mandar o filho como “leão de chácara” para acompanhá-lo na
tentativa – frustrada, aliás – à missa de corpo presente que seria seu
julgamento.
Claro
que tem a intenção de fazer dele um mártir e, para isso, terá de fazer de André
Mendonça um Judas.
Este
é o dilema de Bolsonaro: precisa crescer para fora de seu grupo, mas só o que
sabe fazer é açular os seus, dizendo que está sendo apunhalado.
Apresentar-se
como um solitário faz parte da imagem que quer propagar, exceto em relação às
Forças Armadas, a quem verga a se apresentarem como garantidoras do seu poder.
Ruy
Castro, na Folha, é impiedosamente verdadeiro com esta estranha
conjunção de “fiéis”:
Sob
Bolsonaro, qualquer desclassificado no governo pode pregar o armamento da
população contra a “criminalidade de Estado”. Isso significa a incitação a que
civis peguem em armas para, ao comando de Bolsonaro ou dos zeros, desafiar os
governadores, os tribunais e, se preciso, o próprio Exército.
O que esses generais acharão da ideia de dividir a força armada da nação com
uma turba acima da lei, com ideias particulares de ordem e poder? Irão à sua
caça, para prendê-los e torturá-los, como seus heróis fizeram contra os
inimigos no passado? Ou se sujeitarão a bater continência para gente como
Daniel Silveira?
Pois
quem notar que tipo de mártires Bolsonaro quer construir saberá que tipo de
heróis se terá de cultuar.
Tijolaço.
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