Título
de Personalidade Corrupta do Ano foi conferido por organização internacional de
jornalistas investigativos. Hipocrisia foi critério de desempate.
Bolsonaro
superou os presidentes dos EUA e da Turquia, Trump e Erdogan, concorrentes por
usar propaganda como arma de governo, desprezar a democracia e politizar os
sistemas.
O
presidente Jair Bolsonaro foi nomeado “Personalidade Corrupta do Ano” pelo
Projeto de Relatórios do Crime Organizado e da Corrupção (OCCRP, na sigla em
inglês). O coletivo, que reúne jornalistas investigativos e ativistas de
diversos países, observa que Bolsonaro, depois de eleito com discurso
anticorrupção está rodeado de figuras corruptas. Além disso, gastou dinheiro
público em propaganda para promover sua agenda conservadora, sabotou o sistema
de Justiça. O “prêmio” se deve ainda à gestão ambiental destrutiva, sobretudo
na Amazônia, ao tolerar desmatamento e queimadas recordes, enriquecendo figuras
que a OCCRP classifica
como “alguns dos piores proprietários de terras do país”.
Para
alcançar o título de Personalidade Corrupta do Ano, edição 2020 (o prêmio
existe desde 2012), Bolsonaro teve concorrência de peso. Entre os finalistas,
superou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente turco,
Recep Erdogan, e o chefe de Estado da Ucrânia, Ihor Kolomoisky. Todos expoentes
da onda de extrema direita que assola o mundo. De acordo com a OCCRP, os
finalistas ostentam em comum a propaganda como arma de governo, o desprezo às
instituições democráticas. Além disso, a politização dos sistemas de Justiça, a
falta de diálogo e de acordos multilaterais. “Premiaram círculos internos
corruptos e moveram seus países da lei e da ordem democráticas para a
autocracia”, explica a organização.
VENCEU
A HIPOCRISIA
“Esse
é o tema central do ano”, disse Louise Shelley, diretora do Centro
Transnacional de Crime e Corrupção (TraCCC), da Universidade George Mason
University (Estado da Virginia. EUA), que participou do painel do prêmio.
“Todos são populistas causando grandes danos aos seus países, regiões e ao
mundo. Infelizmente, eles são apoiados por muitos, que é a chave do populismo”,
diz Louise.
Bolsonaro
é também acusado de receber repasses de salários de funcionários fantasmas –
prática conhecida como “rachadinha”. Mas em meio a tantas semelhanças com outros
líderes populistas do mundo, o critério de desempate pelo qual Bolsonaro tirou
dos pares neofascistas o troféu de Personalidade Corrupta do Ano foi o quesito
hipocrisia. Ele assumiu o poder com a promessa de lutar contra a corrupção, mas
não apenas se cercou de pessoas corruptas, como também acusou injustamente
outros de corrupção.
“A
família de Bolsonaro e seu círculo íntimo parecem estar envolvidos em uma
conspiração criminosa em andamento e têm sido regularmente acusados de roubar
do povo”, afirma Drew Sullivan, editor do OCCRP e um dos juízes do painel.
“Essa é a definição de um livro sobre uma gangue do crime organizado”, explica
Sullivan. (Nota do editor: A organização criminosa pela qual pessoas próximas
ao círculo de Bolsonaro são investigadas é minuciosamente descrita no
livro-reportagem de Bruno Paes Manso República das Milícias – Dos
Esquadrões da Morte à Era Bolsonaro, editora Todavia.)
CONEXÕES
Essas
conexões incluem familiares do presidente, como seus filhos Carlos Bolsonaro e
Flávio Bolsonaro. As acusações vão de participação em esquema de repasse de
salários de funcionários fantasmas a envolvimento com milícias violentas que
controlam territórios do Rio de Janeiro. Inclusive grupos investigados pelo
assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes.
É
citada ainda a segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira
Valle. Ela adquiriu 14 imóveis, parte deles em dinheiro vivo, enquanto esteve
casada com o então deputado federal. Também é lembrado pela OCCRP o amigo e
aliado Marcelo Crivella, prefeito afastado do Rio de Janeiro, em prisão
domiciliar por operar uma organização criminosa dentro da administração.
Por
Paulo Donizetti de Souza (tradução livre)
Para ler a íntegra
do original em inglês, acesse aqui
Do RBA
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