As
Forças Armadas brasileiras, que avançaram gulosamente sobre o governo, achando
que Jair Bolsonaro seria seu Cavalo de Tróia, sairão – e não levará muito tempo
– das beiradas do poder muito menores do que eram e certamente com as marcas
dos coices que recebem, a toda hora das figuras esdrúxulas que cercam o
presidente.
O
episódio com o ministro do Meio Ambiente, afrontando o general Hamilton Mourão
e chamando de “Maria Fofoca” o também general Luiz Carlos Ramos, secretário de
Governo, não foi o primeira e não será a última da série de bofetadas que
receberam e receberão como preço por sua ambição obtusa em querer ir além de
seus coturnos e dominar o governo brasileiro.
Para
ficar apenas em um caso, todos viram o general Eduardo Pazuello, que se
aventurou a achar que era mesmo ministro da Saúde e não mero serviçal de
Bolsonaro, se esbofeteado em público, baixar a cabeça e fingir que nada houve.
Helena
Chagas, hoje, no site Os divergentes, publica artigo tão impiedoso quanto
veraz sobre este castigo (merecido) a uma camada de generais que permitiu e
estimulou a penetração do extremismo de direita nos quartéis e agora, como bem
diz ela, nem mesmo pode arrepender-se do que foi feito e terão de amargar,
sossegados com gratificações e cargos, ser uma nova milícia do capitão.
MILITARES CAEM NA
ARMADILHA. BEM FEITO
Helena
Chagas, n’Os Divergentes
O
prazo de validade de Ricardo Salles no governo já venceu há muito tempo. Ainda
que saibamos que o descalabro na política ambiental tem a digital explícita de
Jair Bolsonaro, uma simples troca na pasta do Meio Ambiente já teria, há meses,
melhorado o ambiente internacional a a imagem do Brasil nesse assunto. Mas
Salles, espertamente, se abraçou ao bolsonarismo ideológico, e agora sua saída
— ou não — virou uma batalha importante na guerra entre essa ala e os
militares. Até mesmo os filhos presidenciais pegaram em armas em sua defesa neste
fim de semana.
Do
outro lado, os militares, sobretudo no Alto Comando do Exército, estão furiosos
— e não só com o fato de Salles ter chamado o general Luiz Eduardo Ramos de
Maria Fofoca. Além das trombadas do ministro do Meio Ambiente com o vice Hamilton
Mourão, não estão gostando da forma como outro general, Eduardo Pazuello, foi
tratado pelo chefe do episódio da vacina “chinesa”contra o coronavírus. Sem
contar no vazamento gratuito de notícias de que o próprio Mourão será rifado da
chapa presidencial de 2022.
Há
algo de podre no reino de Bolsonaro, que depois do acordo com o Centrão está se
sentindo muito seguro para cutucar e desautorizar seus generais — aqueles
mesmos que, lá trás, dizia-se que iriam “tutelá-lo”. Assim como, justiça seja
feita, o presidente vem fazendo com os próprios ideológicos em sua estratégia
de se recompor com o establishment político e o próprio STF.
Talvez
Bolsonaro tenha percebido que nem ideológicos e nem militares têm para onde ir
sem ele. Uns, porque não vão encontrar, nem em 2022 nem nunca, um candidato
mais à direita do que ele para apoiar. Outros, porque entraram numa canoa
furada e agora não têm como sair. Ao passar por cima de valores como a lealdade
ao Estado — e não a governos — os militares que correram para apoiar Bolsonaro
e ocupar, aos milhares, os cargos da administração, talvez não tenham percebido
a armadilha em que caíram. Ou talvez os espaços a preencher na volta ao poder
tenham falado mais alto.
Agora,
divididos e enfraquecidos, os militares percebem que sua imagem se colou a de
um governo que contraria tudo aquilo que prometeu no quesito austeridade e
combate à corrupção. O inevitável desgaste das Forças Armadas já se manifesta
nas pesquisas. Bem feito.
Do Tijolaço.
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