domingo, 13 de fevereiro de 2011

SARNEY, O MUBARAK DO MA

RIO - Em agosto de 1977, poucos dias antes de morrer, o saudoso senador Victorino Freire, da Arena do Maranhão, pediu a seu amigo, o general Orlando Geisel, para dizer ao presidente Ernesto Geisel que ia morrer certo de que Sarney não seria nomeado governador do Maranhão.

Apesar do apelo dramático, em maio de 1978 Sarney, senador da Arena, parecia escolhido governador. Foi a São Luís, gravou uma mensagem ao estado na TV de um aliado, deputado Magno Bacelar, voltou para Brasília e ficou esperando a comunicação. De Recife, o general Potiguara, comandante do 4º Exército, ligou para o Planalto:

- Esse não.

VITORINO

No dia D, desde cedo, os amigos começaram a chegar ao apartamento de Sarney na SQS 309: Alexandre Costa, Edison Lobão, João Castelo, Luís Rocha, José Reinaldo Tavares, Airton Rocha.

Às 10h, o general Moraes Rego, chefe do Gabinete Militar, diz ao jornalista Oliveira Bastos:

- O governador é o Edison Lobão.

Meio-dia em ponto, toca a campainha. É um coronel, que fica de pé:

- Senador, trago uma mensagem do general João Baptista Figueiredo (chefe do SNI - Serviço Nacional de Informações - do governo Geisel). Ele pediu para avisar que, infelizmente, o senhor não vai ser o governador do Maranhão. Indique dois nomes.

CASTELO
Sarney pegou um papel e escreveu: João Castelo e Alexandre Costa.

O coronel saiu, Sarney sentou-se na rede, fez-se um silêncio na sala e começaram todos a chorar baixinho, inclusive Castelo e Alexandre.

Uma hora da tarde, o Planalto anunciou João Castelo. Alexandre Costa “brigou” com Sarney por ter sido incluído em segundo lugar. João Castelo começou a brigar logo depois que assumiu o governo, porque Sarney pensava que, embora fora do governo, o governador era ele.

SARNEY
O mais completo e respeitado documentário da política brasileira, o DHBB, “Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro”, da Fundação Getúlio Vargas, conta assim o começo da história política de Sarney (pg. 5.291) :

“Nascido em 24 de abril de 1930, em Pinheiro, no Maranhão, ingressou na vida política ao eleger-se, em outubro de 1954, quarto suplente (sic) de deputado federal na legenda do Partido Social Democrático (PSD), com 3271 votos. Ocupou uma cadeira na Câmara Federal entre agosto e setembro de 1956 e de maio a agosto de 1957”.

“Segundo José Ribamar Caldeira, na história política do Maranhão o período de 1956 a 1966, que então se iniciava, caracterizou-se por um coronelismo particular, o vitorinismo, que consistiu no domínio absoluto dos interesses do senador Vitorino Freire”.

UDN
“Em julho de 1958, rompendo com o vitorinismo, Sarney ingressou na União Democrática Nacional (UDN), cujo diretório regional presidiria desse ano até 1965, ao serem extintos os partidos”.

“Em outubro de 1958, concorreu novamente à Câmara, com o apoio das Oposições Coligadas - UDN, Partido Democrata Cristão (PDC) e Partido Republicano (PR) -, sendo eleito com 15 mil votos. Assumiu o mandato em fevereiro de 1959. Entre 1959 e 1960 foi vice-líder da UDN”.

MUBARAK
Não se vê uma só razão para Sarney envergonhar-se dessa história, da sua história. No entanto, ele a frauda sistematicamente, tentando esconder que disputou sua primeira eleição pelo PSD (e não pela UDN), que não se elegeu, mas ficou apenas como 4º suplente e foi graças a Victorino Freire que assumiu dois meses de mandato em 1956 e três em 1957, porque Victorino conseguia que o governador nomeasse secretários quatro deputados federais do PSD para Sarney assumir na Câmara.

É um mistério. Só Freud poderia explicar por quais traumas o Mubarak do Maranhão mente sempre, compulsivamente, sem necessidade alguma, inventando mentiras contra verdades que não lhe fazem mal.

MENTIRA
Dias atrás, o país todo viu Sarney dizer tomando posse no Senado:

- Comecei a vida publica em 1955, quando me elegi pela UDN. Cheguei à Câmara, meus mestres foram Prado Kelly, Afonso Arinos.

Mentira. Não houve eleição parlamentar em 55. E ele era do PSD: cinco meses deputado em 56 e 57. Eleito mesmo, e pela UDN, só em 1958.

Sebastião Nery

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