Bolsonaro
usa recorrente demonização da Venezuela para criticar as medidas adotadas pelo
governo maranhense no combate ao coronavírus.
Considerando
a polêmica travada por Jair Bolsonaro, nesse domingo, com o governador do
Maranhão, Flávio Dino, vale a pena explorar aspectos do assunto que motiva uma
pseudopreocupação manifestada pelo repugnante e desprezível presidente da
República.
A
sua recorrente demonização da Venezuela agora foi dirigida para criticar as
responsáveis medidas adotadas pelo governo maranhense. Importa, pois,
salientar: o Brasil não “vai virar uma Venezuela”, como a histeria reacionária
e bolsonarista rumina e se opõe. Seguramente, não sob os auspícios do governo
entreguista de Bolsonaro.
Com
uma população de cerca de 30 milhões de pessoas, o país vizinho registra pouco
mais de 400 casos com covid-19 e 10 mortos. Em termos razoavelmente
comparativos, o estado de São Paulo possui 46 milhões de habitantes. Os casos
registrados de coronavírus ultrapassam os 44 mil infectados, com quase 4 mil
mortos.
Números
comparativos bastante alvissareiros e positivos para a Venezuela. Eles são
motivados por uma testagem massiva, bem como a uma oferta de amplo atendimento
médico e às garantias dadas pelo Estado venezuelano para o pagamento dos
salários e rendimentos dos trabalhadores. Isso tudo em meio a sérias sanções e
boicotes internacionais promovidos pelos EUA, que criam muitas dificuldades e
privações no país coirmão.
No
Brasil, que “não vai virar a Venezuela”, os trabalhadores perdem direitos,
salários, empregos e o governo genocida impõe exigências draconianas para
importantes frações da população receberem míseros 600 reais. Filas e mais
filas na Caixa Econômica Federal. Uma deliberada política de genocídio.
A
fome bate na porta e o governo Bolsonaro empurra a nossa gente para o
desespero, a doença e a morte. Quanto ao atendimento médico, o descaso
prevalece em nosso país e os recursos não são destinados onde deveriam chegar.
Os médicos, enfermeiros e demais trabalhadores da saúde estão mergulhados em
péssimas e perigosas condições de trabalho.
Perdura
o criminoso congelamento constitucional dos investimentos públicos nas áreas
sociais, sem nada no horizonte que indique a derrogação da nefasta lei. Mais de
150 mil casos e de 10 mil mortes no Brasil. Ocorrências decorrentes de uma
deliberada decisão política. Sem dúvida, o Brasil “não vai virar uma Venezuela”.
Ademais,
não temos militares patriotas, nem camadas trabalhadoras e populares
organizadas, menos ainda lideranças políticas de proa, detentoras de notória
capacidade de defesa da soberania nacional e dos direitos coletivos.
Não
possuímos uma mídia diversificada, para incentivar e dar corpo ao pluralismo da
opinião. Para que se permita a irradiação de ideias, assuntos e categorias de
percepção da realidade que sejam plurais, em que todas as vozes sejam ouvidas,
todos os olhares vistos. Muito menos
temos efetivos instrumentos de participação popular nos processos decisórios do
país, como o recall, que impõe controle sobre os atos dos governantes.
O
Brasil, por ora, tem, isso sim e em grande medida, militares que são serviçais
dos interesses americanos e massas amorfas e desorganizadas, a cada dia mais
desapossadas de direitos. Um país sem soberania. Eis o que temos.
Uma
pálida imagem de democracia representativa é o que o nosso país possui. Temos o
crime organizado no governo e em outras instituições, com o propósito de
defender os interesses dos EUA, de assegurar a hiperexploração dos
trabalhadores e de transferir riquezas nacionais para fora.
Parabéns,
presidente. Nós “não vamos virar a Venezuela”. Na contramão, cada vez mais nos
parecemos com a Colômbia. Lugar que mais exporta cocaína no mundo. O pior país
em relação à proteção dos direitos humanos.
Na
Colômbia, nação também coirmã, proliferam os grupos armados paramilitares e os
esquadrões da morte. Todos com força de incidência na vida política,
aterrorizando ativistas políticos e movimentos sociais. Um obscuro satélite
sul-americano tutelado pelos EUA.
Estamos
muito semelhantes desse modelo de sociedade e regime político. Você tem
responsabilidade direta nessa desgraça, presidente. Somos um lastimável pária
no mundo, em que a morte é exaltada e converte-se em eixo das instituições e da
sociabilidade cotidiana.
Roberto
Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.
Do
GGN
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