O
Brasil parece ser a prova viva do ditado que usava a minha avó: “de boas
intenções, o inferno está cheio”.
Falta
apenas acrescentar que as boas e cândidas intenções são, claro, a ele de
cordeiro que encobre o lobo.
Vejam
a linda e comovente “compra da vacina por empresas privadas apara ajudar o
SUS”.
De
uma só tacada, em 24 horas, temos a vacina clandestina dos donos de empresas de
ônibus de Minas Gerais, a Justiça Federal derrubando obrigatoriedade de doação
ao SUS de metade das vacinas compradas por entidades privadas e o próprio
Ministro da Economia propondo que se dê “isenções fiscais” – isto é, que se
pague as doses com dinheiro público para um grupo privado de pessoas.
“Dizem que um
grupo de empresários de Minas conseguiu ir lá fora comprar, já se vacinaram.
Por enquanto, isso é ilegal. Agora, se a gente permitir que isso seja feito de
forma legal e que eles façam doações… E aí você pode dar isenções para as
doações que eles fizerem”, disse Guedes em audiência virtual do Senado,
relata a Folha.
“Por
enquanto, isso é ilegal”.
É
ilegal e é imoral, ministro.
Em
primeiro lugar, porque está escrito na Constituição brasileira que “saúde é um
direito de todos e um dever do Estado” e, portanto, não pode estar sujeita à
circunstância de que alguém trabalhe na empresa A, B ou C, ou que seja um
desempregado.
Pior
ainda se todos vão pagar, via isenções tributárias, o preço das vacinas que só
poderão ser tomadas por alguns. Ou, ao menos, que metade delas só sejam tomadas
por alguns.
Mais:
se há vacinas para vender à iniciativa privada, porque não as há para vender ao
governo brasileiro?
Ainda
mais se são, como diz Guedes, “sobras de vacina no exterior” que pertencem, ao
que se sabe, a outros governos nacionais.
Ou
há um “mercado negro” de vacinas, onde, por exemplo, os donos de empresas de
ônibus conseguiram as suas doses. Vamos comprar de atravessadores, como aqueles
que nunca foram expostos, quando começou esta história de “vacina
privada”.
Temos
um governo canalha e, infelizmente, também uma elite – na política e na mídia –
que não se revolta diante de uma proposta semelhante a haver um elevador social
e outro de serviço para alcançar o direito à vida.
Tjolaço.
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