De
qualquer modo, haverá fogos de artifício no dia 31 de março, com Bolsonaro
radicalizando uma vez mais o seu discurso.
Os
principais episódios de tomada de poder pela ultradireita, no século 20,
mostram uma lógica repetitiva.
1.
O candidato a ditador explora grupos de seguidores alucinados, criando o
movimento que o leva ao poder.
2.
No momento seguinte, institucionaliza-se, com alianças com o poder econômico e
a cooptação das Forças Armadas, e deixa os primeiros seguidores ao léo.
3.
Em alguns casos – como no episódio da noite dos longos punhais, no regime
nazista – o ditador simplesmente elimina as lideranças dos primeiros
movimentos.
O
desgaste de Bolsonaro em manter um personagem claramente estúpido, como Ernesto
Araújo, comprova que não conseguiu sair da primeira fase dos ensaios
autoritários, de dependência dos seus primatas. Ou seja, caminha para 2022
contando exclusivamente com o apoio de grupos terraplanistas.
Este
é o ponto central, antes de entrar na análise das mudanças ministeriais de
ontem.
Elas
têm uma lógica exclusivamente defensiva. Enfraquecido pelo fracasso na luta contra
o Covid-19, Bolsonaro atua em duas frentes sensíveis, a frente política e a
frente armada.
Na
frente política, para impedir qualquer tentativa de impeachment no Congresso,
fortalece o Centrão, trazendo para o centro do governo uma deputada federal do
grupo.
Em
relação à frente armada, coloca um Policial Federal à frente do Ministério da
Justiça e demite o Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O alvo final
parece ser o comandante do Exército, general Edson Pujol que sempre obstou as
tentativas golpistas de Bolsonaro.
Em
maio passado, Bolsonaro claramente ensaiou um golpe, estimulando as
manifestações contra o Supremo Tribunal Federal em frente à sede do Exército.
Não prosperou devido à posição firmemente legalista de Pujol.
Logo,
se conclui que, com as mudanças nas Forças Armadas, Bolsonaro ambiciona um
Estado Maior que convalide suas intenções golpistas. Se conseguirá a adesão ou
não, são outros quinhentos.
A
LÓGICA DAS FORÇAS ARMADAS
Nas
movimentações de ontem, fica claro que Bolsonaro não conseguiu ampliar o
círculo de militares para além do seu restrito círculo de oficiais da reserva.
Houve apenas um remanejamento de cadeiras.
Além
disso, encontrará dificuldades para indicar Ministros militares submissos a
ele. Há regras tácitas de promoção das Forças Armadas, que não poderão ser
atropeladas com a mesma facilidade com que o governo desrespeita listas
tríplices de Universidades federais.
Mesmo
assim, há outros fatores em jogo:
*
a resistência dos militares contra Lula.
*
o fato dos militares terem provado do fruto proibido, a interferência no setor
civil, inaugurada pelo deplorável interregno de Michel Temer.
*
a simpatia por Sérgio Moro e a Lava Jato.
*
a constatação de que a ligação com Bolsonaro é veneno na imagem das FFAAs.
Por
enquanto, não parece haver massa crítica para qualquer tipo de interferência
maior. Mas há um cadinho levado ao fogo brando, de montagem gradativa de um
discurso de legitimação dos militares no setor civil. Depois que Temer deixou
sair da garrafa o militarismo, jogou um problemaço para a frente.
De
qualquer modo, Bolsonaro não aparenta ter conseguido apoio crítico das FFAAs
para aventuras maiores.
De
qualquer modo, haverá fogos de artifício no dia 31 de março, com Bolsonaro
radicalizando uma vez mais o seu discurso. E continua esquentando em fogo
branco dois instrumentos bolsonaristas: o estímulo às rebeliões das policiais
militares estaduais e a insuflação de suas milícias armadas, os clubes de tiro
e caça.
Ontem,
16 governadores divulgaram carta endereçada a Bolsonaro e aos presidentes da
Câmara e do Senado, condenando a tentativa de autoridades bolsonaristas de
manipular agentes de segurança dos estados.
Some-se
às ameaças sofridas pelo governador paulista João Dória Jr para se ter um
ensaio da radicalização das próximas semanas.
GGN.
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