A
edição de hoje do The New York Times tem uma impressionante
reportagem de capa – “Como o vírus venceu” – onde se rastreia a disseminação dos
casos de infecção e morte pelo novo coronavírus nos Estados Unidos desde que o
país tinha apenas 15 casos detectados e o presidente Donald Trump desdenhava do
perigo, dizendo que em alguns dias estes seriam “reduzidos a zero“.
No
mesmo briefing de imprensa – as semelhanças não são mera coincidência
– ele desdenhava dos efeitos do Covid-19, dizendo que a gripe comum matava
milhares de vezes mais e ninguém se preocupava com ela.
O
trabalho da equipe do NY Times é precioso, analisando “padrões de
viagem, infecções ocultas e dados genéticos para mostrar como a epidemia saiu
de controle”.
E
registra, com situações concretas, como as autoridades públicas deixaram de
tomar as providências duras que poderiam ter salvo dezenas de milhares de
vidas.
Rastreamos
a disseminação oculta da epidemia para explicar por que os Estados Unidos não
conseguiram detê-la. A cada momento crucial, as autoridades americanas estavam
semanas ou meses atrás da realidade do surto.
As
conclusões são duras e deveriam servir como advertências para nós, que tivemos
a sorte de estarmos, em relação aos EUA, “atrasados” na disseminação da
epidemia, basicamente porque lá é incomensuravelmente maior o movimento de
viajantes internacionais e, claro, foram eles os vetores do que se transformaria
em pandemia.
Os
principais especialistas federais em saúde concluíram, no final de fevereiro,
que o vírus provavelmente se espalharia amplamente nos Estados Unidos e que as
autoridades do governo logo precisariam instar o público a adotar medidas de
distanciamento social, como evitar multidões e ficar em casa.
Mas Trump queria evitar perturbar a economia.
Por isso, alguns de seus conselheiros de saúde, por insistência de Trump,
disseram aos americanos no final de fevereiro que continuassem a viajar no país
e seguir suas vidas normais.
A
história está toda ali, na primeira fase da expansão da doença. Mas a segunda
fase ainda está por ser escrita, com o país voltando a registrar números
recordes de contaminação (37 mil ontem, 47% a mais que há duas semanas). As
mortes, ainda em queda (se é que se pode chamar quase 800 óbitos de “queda”)
logo seguirão a mesma macabra tendência.
Estamos,
outra vez, recebendo avisos, mas parece que, de novo, eles serão ignorados.
Nossas autoridades públicas se amparam no fato de que, salvo em alguns casos, o
sistema de leitos de internação não entrou em colapso – claro que por ter sido
fortemente expandido – e acham que este perigo “já passou”, abrindo todo o
comércio e os serviços e falando até em volta às aulas.
Serão
atropelados pela realidade, como os norte-americanos foram e estão sendo.
Do
Tijolaço
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