Se
Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Procuradoria Geral da
República quiserem, de fato, investigar os mal feitos da Lava Jato Curitiba,
debrucem-se sobre o escandaloso acobertamento da Trafigura.
Ontem,
a Bloomberg noticiou mais um cerco sobre Isabel Santos, filha do ex-presidente
de Angola que, durante a gestão de seu pai, acumulou uma fortuna bilionária.
A
principal beneficiária das tramoias de Isabel Santos foi a Trafigura,
comercializadora de petróleo, uma das 50 maiores empresas do ranking da
Standard & Pors. Compreensivelmente, o nome da empresa não é mencionado na
reportagem.
A
Trafigura é um dos exemplos mais nefastos da financeirização da economia
mundial. Fundada por operadores financeiros, começou a atuar na comercialização
de petróleo, dentro do processo que tornou o mercado de petróleo um ativo
financeiro, sujeito a enorme volatilidade.
Mais
que isso, virou uma máquina de corrupção e de atentados ao meio ambiente. Foi o
principal ator da corrupção de Angola, conseguindo o controle da prospecção,
importação de petróleo e de obras de infraestrutura. Seus concorrentes maiores
eram a Petrobras, na área de petróleo, e Odebrecht, na área de engenharia. Os
ataques ao meio ambiente custaram a prisão do seu sócio e fundador
A
Lava Jato bateu no coração da Trafigura quando deteve Mariano Marcondes Ferraz.
Lobista carioca, Mariano foi o principal organizador da mega corrupção em
Angola. Como recompensa, ascendeu ao cargo de membro do board mundial da
Trafigura.
Marcondes
Ferraz foi denunciado por Paulo Roberto Costa e outros executivos da Petrobras
como o intermediário da Trafigura junto à Petrobras. Foi preso nessa condição.
De advogados que acompanhavam a Lava Jato ouvi o diagnóstico definitivo: agora,
a Lava Jato bateu no centro de corrupção da Petrobras. De fato, o dinheiro
envolvido na comercialização de petróleo era imensamente superior aos valores
da construção civil. E tinha-se na linha de frente algumas das empresas mais
suspeitas do planeta, além da Trafigura, a Glencore.
Repare
bem: a Petrobras não é uma empresa corrupta, é vítima de corrupção. Ou seja, a
corrupção ocorrida era contra a Petrobras. Já a Trafigura tem a corrupção na
veia, como comprovaram os escândalos de Angola.
Na
ocasião da prisão de Marcondes Ferraz, as principais publicações econômicas
mundiais ressaltaram o fato de pertencer ao board da Trafigura. Principal
operador de Mariano na Petrobras, em seu depoimento Paulo Roberto Costa ligou-o
de forma explícita à Trafigura. Mesmo assim, Mariano Ferraz foi libertado poucos
dias depois e o seu inquérito mudou de objeto: em vez de representante da
Trafigura, passou a ser processado por um bico que fez para uma empresa
italiana, a Decal, no porto de Suape. Nesse caso, tinha uma taxa de sucesso de
5% da operação.
Ao
contrário da Petrobras, a Trafigura foi totalmente blindada, não apenas no
inquérito mas na divulgação de dados. Marcondes Ferraz foi liberado pouco tempo
depois, mediante depósito de fiança – benefício que não foi estendido à maioria
dos presos pela Lava Jato.
No
seu depoimento, Mariano fala dos contatos com Paulo Roberto e do fato de ele
estar muito mais ligado aos negócios da comercialização – justamente a área de
atuação a Trafigura. No
seu interrogatório, em nenhum momento aparece o nome da Trafigura – apesar
do próprio Paulo Roberto ter mencionado em seu primeiro depoimento. Mariano
admite que não houve nenhuma melhora nos pagamentos à Decal, mostrando que as
tratativas não foram eficientes. Durante cinco anos, a Petrobras continuou
pagando a mesma tarifa à Decal. Mesmo assim, a Lava Jato aceitou sua versão, de
que as propinas referiam-se aos negócios da Decal.
No
depoimento, Marcondes Ferraz faz questão de enfatizar que todas as contas
identificadas na Suiça eram dele. Sustentou que nem a Decal tinha informações
sobre as propinas. Todos os pagamentos saiam das contas pessoais dele.
Na
ocasião, mostramos todos os dados das ligações da Marcondes Ferraz com a
Trafigura. Houve silêncio absoluto da mídia e da Lava Jato. As reportagens
chamaram a atenção de jornalistas estrangeiros, ligados a ONGs ambientais. As
denúncias de sua atuação em Angola foram levantadas a partir de trabalhos de
blogueiros nacionais.
No
depoimento de Marcondes Ferraz, as perguntas do procurador são ridículas. Em
que ano saiu do Brasil? As contas na Suíça têm sua identificação? Na sequencia,
o procurador pede que Mariano diga qual o ganho que a Petrobras teve com o
contrato da Petrobras.. Levanta a bola para Mariano fazer uma belíssima
propaganda do terminal da Decal. Nenhuma preocupação em levantar, junto aos
procuradores da Suíça, os pagamentos da Trafigura a Mariano.
A
brava equipe de repórteres investigativos, repassadores de releases da Lava
Jato, em nenhum momento questionou o inquérito.
Nos
meses seguintes, a Petrobras começou a vender ativos na América Latina. A
principal candidata às compras foi justamente a Trafigura.
Agora
que acabou a blindagem da Lava Jato, é preciso que se vá fundo sobre os motivos
de se poupar a Trafigura.
Outras reportagens
do Jornal GGN sobre o tema:
Xadrez
da Lava Jato e da Corrupção em Angola – Capítulo 1
Xadrez
da Lava Jato e a corrupção em Angola – Capítulo 2
Ha
corrupção nos EUA? Sim, tem muita e é legal, por André Araújo
Xadrez
da Petrobras e a maior corrupção do planeta
Moro
condena Mariano Marcondes e livra a Trafigura
GGN.
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