No Estadão, a
revelação das falsificações grosseiras nos documentos entregues ao Ministério
da Saúde pela Precisa, intermediária da compra da vacina indiana Covaxin, é
mais que bastante para saber que aquela não foi uma negociação normal, mas uma
picaretagem bilionária que não poderia ter avançado dentro do governo
brasileiro.
“Colar”
arquivos de texto criados pela Precisa sobre documentos da Bharat Biotech,
aproveitar carimbos, com erros grosseiros de grafia, tudo isso é estarrecedor
e, obviamente, criminoso em si mesmo.
É
estranho que o Ministério da Saúde, em tese enganado por estes expedientes
sujos, não tenha reagido. Só a Anvisa que, diante da anulação da autorização da
Precisa, disse que que está reavaliando o”pedido de autorização de uso
emergencial e um protocolo para condução de pesquisa clínica no país” feitos
por ela em nome da Bharat Biotech.
Mas
como é que estes aventureiros da Precisa chegaram à empresa indiana e
financiaram o envio de emissários para Nova Deli e Hyderabad, cidade onde fica
a fábrica de vacinas?
A
história, se bem apurada, vai se ligar à compra das doses por empresas
privadas, entre elas clínicas de vacinação que firmaram contratos com a Precisa e
pagaram adiantado por isso.
Era
fácil de prever isso, quando se começou, dentro do Congresso a se discutir a
badalada “intenção de ajudar” de empresas privadas que queriam comprar doses –
que no mundo inteiro, pelos fabricantes de vacina, só eram negociadas com
governos – para vacinar seus trabalhadores, “doando” uma parcela ao SUS, que
adiante, seriam pagas pelo poder público.
Era
picaretagem, e isso era possível ver meses antes de ser consumada,
quando um grupo de empresários anunciou que estaria comprando 33
milhões de doses para distribuir entre seus funcionários e doações ao SUS.
Quando
esta mutreta, que chegou a ser aprovada na Câmara, empacou no Senado, os
negócios se deslocaram para que ofertas milionárias e obscuras fossem feitas ao
Governo brasileiro, por uma vasta fauna de intermediários: empresários “amigos”,
“representantes”, um reverendo e até um cabo da PM.
Podem
estar certos de que negócios deste valor não são feitos por funcionários de
quarto escalão ou trambiqueiros rastaqueras. Eles podem estar dando a cara aos
negócios, mas não são os “big boss”.
Fechar
o cerco sobre os falsários da Precisa pode abrir o caminho para que sejam
revelados estes esquemas, que são bem maiores do que crê a nossa ingenuidade
diante de bandidos.
Tijolaço.
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