Infeliz,
sob todos os aspectos, a frase do presidente argentino Alberto Fernández, numa
brincadeira idiota, querendo fazer uma “graça” com a frase “”os mexicanos
vieram dos indígenas, os brasileiros, da selva, e nós, chegamos em barcos”.
É
uma reedição anacrônica das disputas de ironias que eram comuns entre os hermanos e
nós, que tinha como chiste reverso de se dizer que os argentinos “se
acreditavam ingleses, mas eram italianos”.
E
quando não debochamos do “índio” boliviano Evo, e do mulato mestiço Chávez e de
tantos outros que não tinham o tipo físico “adequado” a serem governantes,
porque encarnavam até no rosto o “povão”
Infelizmente,
muitos não se apercebem do quanto isso representa, há dois séculos, um dos
truques dos dominadores para dividir povos que têm, afinal, um continente e um
destino em comum e onde a estratégia de dividir-nos sempre foi a maneira de nos
conservarmos cativos.
Mas
para nós, brasileiros, isso tem sido pior.
Estamos
partindo o que o tempo vinha fazendo, ao nos fundir como um país mestiço, ainda
que nesta mestiçagem haja muitas tristezas e opressões: os negros que vinham
escravizados e eram abusados; os índios que perdiam sua terra e identidade, os
europeus pobres, que vinham com alguns farrapos para trabalhar nas lavouras
calejando as mãos, os árabes que juntavam moedas até poder mascatear pelas
poeiras do interior, os judeus que se enfurnavam nos porões de navio e
despencaram-se para cortiços e subúrbios para fazerem a vida.
Sim,
o retrocesso tem como método nos dividir.
Tribos
são sempre menores e mais fracas que nações e a estratégia de nos tribalizar,
embora pareça atraente para alguns acaba por ser vantajosa para os que pensam
que podem manter todo o povo se ele se dividir.
Fernández
pode até estar certo ao dizer que argentinos vieram de barco, como de barco
vieram muitos de nossos pais, avós, bisavós que, sem a passagem de volta – que
só está disponível hoje para elites que, na Argentina, no Brasil e em inúmeros
países da América Latina enriqueceram – vieram para a América.
Nosso
barco agora, senhor presidente, é este continente latinoamericano e não é por
outra coisa que a direita sempre quis destruir o Mercosul que nos fortalece
politicamente ante a voragem neocolonial.
E
é por isso que o senhor acabou por prestar um favor imenso a um governo
brasileiro que trabalha por isso, mudando o tempo do verbo da frase infeliz: os
brasileiros vieram da selva, da África, da Europa pobre, dos árabes, judeus e
dos orientais de vidas miseráveis e avançaram. E que hoje estamos sendo
arrastados à barbárie violenta.
Tijolaço.
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