A
“explicação” bem-humorada de que cães pequenos não vacilam em avançar sobre
animais maiores é que eles não têm espelhos para ver seu verdadeiro tamanho.
Na
política, a rua acaba por fazer este papel refletivo, embora saiba-se que
impreciso e algo distorcido pelos olhos de quem o vê.
Ontem,
depois de mais de um ano, as forças do progresso e do humanismo voltaram, com
todos os justificáveis receios que impediram que em número muito maior, a
verem-se neste espelho, onde só apareciam, há tempos, as falanges bolsonaristas
que, embora esvaziadas, inflavam-se por expedientes – carreatas, “cavaladas”,
motocicletas – que dissimulavam sua magrém. Palavra que, além de magreza, no
Nordeste significa também, como para Bolsonaro, a estação da seca.
O
monópólio das manifestações públicas era frágil, embora a presença presidencial
lhes desse, pela visibilidade, tamanho maior do que tinham.
A
parca cobertura na grande mídia, embora inexplicável e inaceitável, pouco
prejuízo trouxe a este aspecto essencial dos atos de ontem: no espelho da rua
confirma-se o que pesquisas e nossas sensações indicavam, que a oposição a
Bolsonaro é muito maior e mais palpável que a das bolhas da política e da
internet e que é a retração provocada pela pandemia que ainda a impedem que ela
se reflita em manifestações ainda mais massivas que as de ontem.
Todos
nós, posso apostar, sentimo-nos aliviados do pessimismo e da tristeza com que
passamos a ver nosso país, com a certeza de que amanhã, sem o coronavírus, será
maior, muito maior.
Tijolaço.
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