Perdas
depauperam Brasil emocional, intelectual, humanística e esteticamente.

Semana
de perdas que calaram fundo no universo cultural nacional, deixando o Brasil
empobrecido, depauperado emocional, intelectual, humanística e esteticamente.
As mortes de Paulo Mendes da Rocha, Jaime Lerner e Nelson Sargento, tríade de
ouro, de sensibilidade e competência, afetam profundamente o corpo da nação já
fragilizado pelo alastramento da pandemia covidiana, em sua terceira onda, onde
não há mais barreiras entre jovens e maduros.
Jaime
e Nelson engrossam as estatísticas dos levados pelo vírus, Paulo, em processo
decorrente de outra enfermidade, em momento de pleno reconhecimento, com
honrarias locais e internacionais, de legado considerado e louvado.
Permanecerão os três por razões diversas e comuns, sobretudo quando falamos de
ousadia, invenção e excelência criativa. Obras arquitetônicas, urbanísticas,
musicais, genuinidade e genialidade presentes. Não há transferência de bastão,
há, para os interessados e admiradores, aprendizado, trilhas, pistas, caminhos
a serem percorridos em rotas individuais, tendo como bússolas preciosas as
vidas vividas por esses notáveis cidadãos, mestres na acepção da palavra.
Partidas
em momento sensível, em cenário melancólico oposto à prodigiosa natureza
cultural do país. Tristes estamos e ainda permaneceremos por uma temporada no
inferno da "odiolândia" (expressão cunhada por Giselle Beiguelman)
bolsonarista, empobrecedora do espírito, do conhecimento, da educação, nada
mais ‘anti’ tudo aquilo que os três luminares representavam, ou melhor,
representam na potência singular de cada atuação.
Talentos,
inteligências e tantos outros predicados fundamentais à existência de uma
cultura plena, de relevo, de referencialidade, de exuberância de um Brasil de
respeito e de exemplaridade. Hoje, párias perante o mundo, assistimos ao
grotesco espetáculo de motos de variada representação, assassinas, na Amazônia,
ou coniventes nos asfaltos das capitais, em desfile macabro de saudação à morte
do planeta e da própria nação.
Em
meio à tristeza desta semana dificílima, cabe-nos celebrar a vida-obra de Paulo
Mendes da Rocha, de Jaime Lerner e de Nelson Sargento, desejando-lhes uma
passagem serena, em manto de luz e amor, ao ritmo da música das esferas e da
poesia de Haroldo de Campos:
Tristia
minicâmaras térmicas
para inativação do vírus da tristeza
em borbulhas de
citros
Dom Total.
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